7.6.04

Patagónia

Vou voltar às minhas viagens, aliás fui, manda postal, disseram eles (eles é vós) e eu mando daqui um postal, assim que encontrar um post de correios. Terra do Fogo, digo eu, porque gosto do nome e porque gosto de fins e porque o nome Patagónia sempre me pareceu inventado (mas todos os nomes são inventados!) inventado numa história, era uma vez era uma vez uma turista que chegou à Patagónia numa canoa de casca de árvore. Trazia um bronzeador solar porque o sol do mar é forte, mas trocou-o por um poncho quando a canoa bateu na areia e deitou abaixo um pescador. O pescador falava uma língua que ela não percebia e desatou a gritar agarrado à perna. Ela saltou da canoa e limpou a ferida e depois barrou-a com o creme que trazia. Sabe-se lá porquê, o pescador começou a sorrir e deu-lhe o poncho que trazia. Cheirava um bocado a peixe mas ela cheirava a mar, não notou diferença e estava frio, não se fez esquisita. Avançou pela praia, embrulhada naquela manta e sentou-se no chão quando chegou à linha de árvores. As árvores eram de pedra e tinham fiadas de balões pendurados, com velas dentro. As velas estavam acesas e ela percebeu que era dia de festa. Depois olhou para trás e viu que a canoa estava ao alto, segura pelo pescador. O pescador aplicou o creme solar à base da canoa e dali começaram a sair raizes que se enterraram na areia. E a canoa começou a crescer, muito direita. A parte da casca gravada com o nome dela ficou lá muito em cima, quase sem se ver, mas ela percebeu nessa altura que a festa era para ela. Para comemorar o facto de o seu nome ter criado raízes naquela terra desconhecida, que tinha nome de histórias de encantar. E então, deixou-se ficar.
Comments-[ comments.]