8.6.04

Patagónia Desert (temos gelados mas só depois)

É só calhaus, pensou ela, e deu um pontapé noutro. Estava a andar há mais de duas horas e o poncho a pesar como uma manta de pele de peixe, mas grossa. Acabou por deixá-lo à beira do...do meio das pedras, realmente, não era um caminho, era uma escolha aleatória de entre as pedras, talvez não tão aleatória, algumas constantes sob a forma de pedregulhos mais altos. E com bicos afiados. Garras, pensou ela, e desatou a rir. Imagens comuns, só penso em imagens comuns, e deu mais um pontapé noutra pedra. Felizmente trago as botas do náufrago e depois lembrou-se do resto e varreu o náufrago da memória com uma vassoura de esquecimento obrigatório. Sai daqui, pensou, sai daqui que não quero lembrar-me de ti, mas os olhos vazios continuaram ainda a persegui-la por mais três ou quatro pedras. Sai daqui! e os olhos viraram-se para outro lado. Pareceu-lhe um bom compromisso: enquanto não olhares, disse ela aos olhos virados para outro lado, faço de conta que não te vejo. E as botas, se não tivesse as botas dele, tinha ficado na praia, a olhar para a árvore-canoa. Como é que não haveria de se deixar ficar naquela terra? Não tinha outra saída! nunca ninguém pensa nesses detalhes práticos quando escreve as merdas, considerou, mas uma coca cola é que vinha agora a calhar. E foi então que viu a placa: A Última Coca Cola Do Deserto, 1 km. Aberto 24 h. Do deserto venho eu, respondeu ela à placa, deves ser é a primeira a contar de cá. Mas, pelo sim pelo não, foi andando mais depressa.
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