7.6.04

Ainda

se fuma um cigarro, penso eu, com ele pendurado na boca, ainda apagado. E acendo. E escrevo e acendo. Posts pensados, não, os meus são ligados directamente do pensamento aos dedos, é o que sair. Se pensasses um bocadinho, diz o diabinho pendurado na orelha esquerda, não escrevias nem metade dos disparates que escreves. E o diabinho da orelha direita (porque eu tenho dois, os anjos há muito que se foram, em poeira e areia) responde - ao outro, mas fala alto para eu ouvir - e se ela pensasse mais um bocadinho ou até menos, não escrevia a outra metade. Fico muito quieta e o primeiro já está a dizer, não, eu estava a referir-me a esses e o outro diz-lhe queres sempre ser o primeiro a ter esses pensamentos, mas eu sei muito bem que não eram os disparates que eu referia, eram outros que tu estavas a dizer, mas agora para não dares parte de fraco, dizes que são os mesmos, és sempre a mesma coisa. Não sejas palerma! enerva-se o primeiro diabinho e começa a puxar-me pelos brincos, que é uma coisa que me enerva a mim. Tá quieto, digo-lhe eu, não sabes discutir sem andar aí aos saltos? Já sabes que escorregas sempre e daqui a nada cai-me o brinco! Isso não é um poleiro, sua galinha! e o outro do lado direito desata a rir. O do lado esquerdo torce o brinco a ver se me dói, mas eu já lhe conheço os truques todos e agarro-o. O do lado direito escorrega da orelha com as gargalhadas e, quando se estatela no ombro e se agarra à alça da camisola, fica o da esquerda a rir e esquece-se de me moer mais a orelha, do entusiasmo de abanar o cabelo a ver se o outro não consegue trepar. Vá lá, digo-lhes eu, sejam amigos ou, pelo menos, estejam calados. Estou a ver se consigo escrever um post e assim nunca mais. Chatos! E eles em coro, a única coisa em que estão de acordo, porque é a única altura em que podem largar as minhas orelhas e ir à vida deles, sabe-se lá onde: - E se fosses mas é dormir, sua parva?
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