19.5.04

Sem palavras, mas tentando algumas

Na realidade, aquilo que tinha planeado escrever era um postal da NZ, à deriva no meu barquinho de papel, descrevendo o estado do mar, as condições atmosféricas adversas, veleiros brancos ao fundo e a falta de leme que não me permitiria navegar para lado algum. E o desespero de não saber se seria aquele o veleiro do desaparecido marinheiro...acenava-lhe com o meu xaile de viúva, roxo da cor das nuvens das tempestades que têm assolado este bote e esperava, de todo o coração, que soprasse um vento naquela direcção. Terminaria com um aviso ouvido na rádio, sim o barquinho de papel também tem rádio, na prateleira ao lado do portátil de papel, onde vou desenhando estes bonecos em postais coloridos (nunca consegui desenhar), de um negro nas comunicações durante vinte e quatro horas, a começar à meia noite... ...e, durante esse tempo, ficaria a encher o mar de lágrimas. O que é absolutamente inútil. O que é uma lágrima no mar? Nada. Porque é de nada que se trata, que é como quem diz, tudo isto é treta. Mas não é. Nada seria ficar a encher o mar de lágrimas. Já chega. Quando deitei o bote ao mar, foi assim, largada ao vento, convencida de ir para lado nenhum. Fui construindo bocados de frases, dias de vida, coisas de nada. Não sabia que mais alguém iria ler para além de quem me deu asas. Não fazia a mais pequena ideia da relatividade do tempo, imenso aqui no mar, outra dimensão. Não fazia ideia que uma brincadeira se pudesse transformar numa coisa séria. Não fazia ideia que acabaria por ficar esmagada pelo peso daquilo que escrevia ao ponto de quase não conseguir escrever mais. E não fazia ideia que iria estar aqui agora. Mas nada disso interessa muito. O que realmente interessa são as pessoas. Ali, daquele lado direito, os autores daqueles blogs, os meus amigos. Uns já vinham de antes, outros fiz aqui, alguns conheço, outros não. Mas fazem parte da minha vida. Não é do blog, é da minha vida real. São pessoas reais, muito para além das palavras, são pessoas que contam, são pessoas de quem gosto muito. Não há balanços. O balanço é este, eu estar aqui, neste barquinho de papel amarrotado, uma folha nova...e vocês estarem aqui também. Querem mais que isto? Eu não. A mim chega-me e sobra-me e como balanço é mais do que suficiente: que, quem realmente queria saber de mim, me encontrou aqui. Como se costuma dizer: os amigos são para as boas e para as más ocasiões e, quando precisei, eu, a pessoa por detrás das letras, não me faltaram. Se valeu a pena este ano e estar aqui agora: Valeu. Obrigada, amigos.
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